[F] - Cowboy Carter

Devo dizer que o comportamento usual do jovem ferreiro é um tanto distinto em relação ao dos demais semideuses. Diker não gosta de conflitos e uma mera proximidade com o grande Coliseu o amedronta. O motivo? Não sei exatamente a causa desse traço de personalidade, mas o filho de Hefesto é um homem extremamente medroso e cauteloso. Evita conflitos físicos e passa a maior parte de seu tempo em sua forja. Porém, diferentemente do que o seu isolamento possa levar muitos a pensarem, Diker não é tímido. Pelo contrário, ele é um baita de um sem vergonha!

— Oi, linda. Aceitarias dar uma carona para um pobre guerreiro? — Perguntou o nosso safado protagonista a uma moça que dirigia um veículo ao seu lado.

— Não, obrigada. — Respondeu a desconhecida ignorando o sorriso malicioso do rapaz e lançando-lhe um olhar de desprezo.

Apesar do sorriso estampado no rosto do semideus, seu coração palpitava. Ele se sentia desesperado para sair daquele lugar e se livrar dos gritos de excitação que ecoavam de dentro do Coliseu. Por esse motivo, após a resposta atravessada da sensata semideusa - eu também não confiaria nas boas intenções desse indivíduo - Diker permitiu que o sorriso abandonasse o seu rosto e que traços de preocupação voltassem a tomar conta de sua face.

— Puta safada — reclamou baixinho.

O motivo que o havia levado a estar naquela região era a procura por uma de suas irmãs. Aletheia o havia prometido que lhe ensinaria alguns truques de metalurgia. Porém, a semideusa não havia aparecido. Irritado e aterrorizado, o jovem buscava de todas as formas alguma carona, já que era recém-chegado na cidade e não sabia o caminho a pé.

Sem muitas esperanças, Barlowe sentou-se em um banco comprido e observou atentamente o movimento. Seus dedos pressionavam constantemente o mármore frio à medida que os calafrios percorriam seu corpo. A cada grito que escapava do Coliseu era uma onda diferente de estímulos nervosos que castigava os seus membros.

Diker não estava feliz. Seu rosto havia deixado de tentar seduzir desconhecidos esboçando um dissimulado sorriso e agora exibia um cenho franzido e lábios cerrados. Suas abordagens não eram tão mais amigáveis e seu tom vocal elevava-se cada vez mais. Mas isso estava prestes a mudar.

Antes que pudesse abordar o próximo motorista, Barlowe ouviu uma pergunta. A simples voz do desconhecido o deixou imediatamente incomodado... até o filho de Hefesto olhar diretamente em seus olhos.

— Eita, desgraça! Oi! — Respondeu Diker de sobressalto.

Suas pupilas dilataram de imediato ao observar a beldade que se encontrava a sua frente. O rosto do semideus desconhecido possuía algo que chamava muito a atenção da prole de Hefesto: traços grossos e bem marcados. Sentindo seu coração palpitar, Diker percorreu rapidamente o seu olhar pelo corpo do pobre rapaz. Atentando-se às grossas panturrilhas do indivíduo, um pensamento correu-lhe à mente: "Que sabor".

— Eu tenho dinheiro, só não entendi como funciona o transporte aqui — respondeu com o mesmo sorriso malicioso que estava acostumado a esboçar, porém, dessa vez uma empolgação genuína e pensamentos lascivos o acompanhavam.

— Prazer, sou Diker — apresentou-se enquanto se levantava do banco. — E você? Como é o nome desse filézão? — Questionou-lhe arqueando a sobrancelha direita e estendendo-lhe a mão. Esse safado nem piscava.

Apesar da sua visível empolgação e malícia, os gritos do Coliseu ainda o amedrontavam. Por um breve momento o sorriso lhe escapou da face e a sua velha conhecida expressão de terror tomou conta de seu rosto. No entanto, ele já estava acostumado com ela e conseguiu rapidamente escondê-la.

— Tudo bem, sem problemas — respondeu abaixando de imediato a sua mão e direcionando o seu olhar à boca do recém-conhecido.

A prole de Hefesto não sabia muito bem como disfarçar suas reais intenções, toda a sua linguagem corporal revelava uma crescente atração em relação ao outro. Porém, ao notar o comportamento mais retraído do sujeito, Diker concluiu que precisaria ser um pouco menos descarado… se é que conseguiria assumir essa postura.

— Marchie… belo nome. — respondeu ainda com um sorriso em seus lábios, porém, sem aquela malícia que exibia anteriormente. Ele estava gostando da personalidade oposta à sua que o outro apresentava. Achava-o fofo e ao mesmo tempo atraente.

— Estou indo em direção às forjas… você gosta de metalurgia? — Perguntou-o antes que pudesse pensar em outro assunto.

Diker já havia recebido reclamações acerca de seu hiperfoco em relação à arte das forjas, mas era muito mais forte que ele. Sempre que o assunto em questão vinha à tona, ele nem percebia o tempo passar. Precisava constantemente se auto policiar para não entediar seus interlocutores com conversas desinteressantes acerca de processos de metalurgia e outros assuntos que só eram interessantes a ele mesmo.

— Posso forjar algo para você se quiser, ou te ensinar alguma coisa… Forte desse jeito você se daria bem nas forjas… - disse direcionando seu olhar aos bíceps protuberantes de Marchie que esticavam a manga de sua camisa. Ao perceber esse detalhe, Diker - propositalmente - pairou o seu olhar, por um tempo convenientemente longo, sobre os músculos trabalhados do garoto. Ao mesmo tempo em que Barlowe não queria constranger o sujeito, ele não podia evitar de agir conforme os seus pensamentos fluidos e lascivos desejavam. Como eu disse, esse vagabundo não possui filtros.

— Está fazendo o que por aqui? Não gosto muito desse Coliseu, me causa calafrios… — comentou antes de lançar um olhar preocupado à construção de mármore ao seu lado.

— Acho que você daria um excelente forjador com essas mãos — respondeu fitando atentamente os dedos do semideus sem disfarçar o olhar de loba faminta.

A empolgação crescente de Diker era vísivel. Ao perceber que a conversa estava fluindo, ainda que lentamente, o semideus aumentava o seu sorriso e inclinava levemente a cabeça à direita em sinal de interesse. Seus olhos alternavam entre a boca e o corpo da prole de Ares. Era um misto de “que rapaz bacana” e “que macho gostoso”.

— Fugindo dos seus irmãos? — Questionou-o aumentando subitamente o seu tom de voz. — Que palhaçada, já quero meter-lhes a porrada! — Completou franzindo o cenho. Ele sabia que não teria a capacidade de bater em ninguém, pois não sabia brigar, mas adorava passar uma imagem de macho alfa.

Sutilmente o rapaz se aproximou de March e olhou fixamente em seus olhos: — Posso te proteger, se quiser — mentiu novamente. — Minha forja é bem grande, posso te acolher lá sim… — sorriu maliciosamente e arqueou a sobrancelha esquerda. — Tenho várias coisas pra te mostrar… — completou antes que o seu próprio juízo o repreendesse mentalmente. Estaria sendo inconveniente? Rápido demais? Barlowe não possuía a capacidade de filtrar as suas palavras.

— Posso te mostrar a usar o machado, eu digo… — sugeriu para tentar não deixar a conversa constrangedora, mas só percebeu o duplo sentido de sua frase após proferi-la.

Diker sentiu seu rosto corar. Era muito raro que sentisse vergonha, mas quando acontecia ele não conseguia esconder a sensação devido ao seu tom de pele claro. E o que ele fez para amenizar a situação? Sorriu. Sorriu igual uma criança travessa consciente de que fez algo errado. Só podia torcer para que March não saísse correndo.