O sol reluzia no horizonte, quase que como um contrato particular de Pyotr com os deuses para garantir as melhores condições para aquele evento, iluminando o Coliseu em toda sua majestosidade com os raios dourados e resplandescentes. Já era o terceiro dia de evento e, embora eu achasse inicialmente que as pessoas iam simplesmente se cansar e perderiam o interesse com o tempo, aconteceu justamente o contrário. Um furor tomou conta da cidade e, a cada dia que passava, os cidadãos tornavam-se mais empolgados. Me perguntava se lhes chamava mais a atenção os monstros reduzidos a pó ou seus pares sangrando ao campo de batalha. Era quase como um pão e circo de Júlio César, só que regado ao sabor amargo do sangue.

E o pior de tudo, talvez, era que eu aparentemente havia gostado, já que ali estava novamente, no meio da fila enorme que se erguia ao longo da rua de acesso. Não sabia explicar exatamente o motivo, ou mesmo definir quando aconteceu. Por trás de todas as críticas e lamentações àquela abordagem, acho que uma parte de mim havia sido contaminada pela adrenalina e pelo furor da batalha, como uma droga viciante que ao menor contato com os lábios se transformaria em um caminho sem volta. Devia ter previsto. E enquanto Pyotr observava tudo de seus aposentos especiais, onde deveria estar recebendo massagens nos pés e refrescado com folhas de bananeira, seus "súditos" aparentemente preferiam se matar a perder o lugar às arquibancadas.

Aparentemente, os competidores tinham algum tipo de benefício especial para entrar no Coliseu, do qual eu não queria fazer uso, como uma forma talvez um pouco infantil de protesto. Ao invés disso, adentrei na longa e demorada fila junto aos outros semideuses, desviando dos empurrões e ignorando os comentários maldosos. Além disso, não queria ser reconhecido. Usava roupas simples, uma regata de malha branca e calças de linho verde-musgo. Tentava evitar o contado com os outros semideuses aglomerados e, se não mantivesse a atenção, não demoraria muito para alguém acabar roubando o lugar. Digno de uma calamidade. Me perguntei se aquelas pessoas se esforçariam tanto assim em nome de algo realmente útil, mas acho que elas preferiam se recolher à sua ignorância. Não iria julgá-los. Às vezes, era mais fácil e menos doloroso.

O local imediatamente próximo da entrada estava ainda mais caótico, como um funil onde a multidão se atropelava em torno dos enormes seguranças, que friamente restringiam a entrada. Acho que algum deles deve ter me reconhecido, ou simplesmente teve pena enquanto eu estava praticamente sendo esmagado entre dois outros semideuses, já que me agarrou pela gola da camisa e me puxou para frente, recolhendo minha entrada antes de me enfiar dentro do edifício. Respirei fundo, limpando a poeira da roupa e desviando de outros mais apressados. À frente, vi um garoto quase sendo empurrado por um grandalhão com certa brutalidade, sendo forçado a continuar no caminho pelas arquibancadas. Foi apenas ao me aproximar que percebi que tinha deixado cair uma pulseira no chão.

— Ei, espera! — Apanhei o item, afastando com o cotovelo uma garota que tentou me empurrar para o lado para sair da frente. Infelizmente, ele já estava longe demais. — A pulseira! Você deixou cair a pulseira!

Tentei seguir o rapaz, me enfiando pelas frestas formadas entre os outros semideuses, que reclavam e tentavam me empurrar, mas simplesmente ignorei. Mais e mais pessoas continuavam lotando as arquibancadas, dificultando ainda mais a passagem de um andar para o outro. Demorou alguns minutos para que eu conseguisse alcançá-lo, quando parou subitamente, procurando algo nas mãos. Ainda estávamos separados por uma fila de garotos no que parecia ser um clube de apostas, mas próximo o suficiente para que me ouvisse. Pelo menos esperava.

— Ei! Perdeu alguma coisa? — Tentei chamar sua atenção, erguendo a pulseira acima do nível da cabeça para que pudesse vê-la.

Tentei abrir caminho entre a fila de pessoas à minha frente, arrancando algumas caretas e resmungos no caminho, bem como o que eu imaginei ter sido uma ameaça de cotovelada, da qual prontamente desviei me agachando e passando por baixo do braço do rapaz. O garoto da pulseira tentava fazer o mesmo, atravessando com alguma dificuldade as brechas entre os outros semideuses. Naquele momento, todos pareciam se organizar em múltiplas filas ao redor do Coliseu, buscando pelos melhores lugares para o "espetáculo" — se é que poderia chamá-lo assim — que deveria começar em breve. Fechei a mão ao redor do objeto, protegendo-o enquanto ma aproximava do menino.

Sorri timidamente ao encarar o garoto, alcançando-o ao afastar do caminho um último semideus, que respondeu com um grunhido não muito simpático, mas apenas continuou seu caminho na arquibancada de baixo. Ergui novamente o objeto em sua direção, chegando a abrir a boca, mas antes que pudesse falar qualquer coisa, o garoto simplesmente arrancou o item de minhas mãos, sem maiores cerimônias.

Um tanto atônito pela surpresa, ponderei por alguns segundos se deveria apenas respirar fundo e dar meia volta ou socar seu estômago pela aparente arrogância, mas algo me dizia que a segunda opção me traria problemas até demais, já que ninguém era obrigado a corresponder às minhas expectativas de comportamento. Me preparei para uma resposta não muito agradável, mas talvez minha mudança abrupta de expressão tenha denunciado algo ao rapaz, que logo decidiu se desculpar, antes que eu tivesse tempo de elaborar minha reação. Relaxei meus ombros, suspirando, como se tivesse sido desarmado por algum grau de comoção quando o garoto explicou que estava achando que eu iria agredí-lo.

— Te bater por... perder uma pulseira? Por que diabos eu faria isso? — Arqueei uma das sobrancelhas, saindo do caminho para mais uma fila de semideuses passarem e desviando para voltar ao lado do garoto. O encarei por alguns segundos, me perguntando se já o havia visto em algum local, mas não me parecia conhecido. Ergui a mão em sua direção, eu uma tentativa de paz. — Theo, filho de Poseidon e blá blá blá. Prazer, e não, eu não vou te empurrar na arquibancada quando apertar minha mão.