[Coliseu: Arena da Provação] - Elena Hayden

Em um mundo perfeito, eu teria que me importar unicamente com a escovação dos cavalos no rancho da minha família e garantir que todos os equinos estivessem dispostos a correr, com o casqueamento em dia e bem alimentados, afinal, nasci e cresci junto dos cavalos. Acima de qualquer coisa, eles sempre foram a minha maior paixão…

Mas o mundo não é um lugar perfeito.

O mundo real, o meu mundo real, dividia-se entre os meus animais e os monstros que, sem descanso, tentavam findar a minha vida. Ser filha do Sol Primordial tinha dessas coisas. Por sorte, viver em Divine Ground reduzia esses “encontros inesperados” somente quando eu estava fora da cidade murada, especialmente no rancho da minha família. Bem, isso até o atual prefeito decidir que era um bom momento para criar uma espécie de torneio aberto para todos os residentes participarem. Esse tipo de situação, normalmente, não encheria meus olhos, exceto pela “singela” bagatela dada como premiação para os que ousassem participar das batalhas. E eu precisava daquele dinheiro.

Nunca fui um exemplo de consumista ou coisa do tipo, mas eu definitivamente tinha vontades e ambições que somente o dinheiro poderia me proporcionar, visto o modelo social e econômico em que vivemos — mas não vamos entrar nesse assunto… vai que o prefeito tente me censurar.

E com isso, se explicava o real motivo para eu estar ali, os pés calçados com botas no solo arenoso. Assim como nos meus momentos de equitação, optei por utilizar um culote bege e justo em minhas pernas, marcando minhas coxas e panturrilha, mas que me davam a liberdade perfeita para me movimentar como desejasse. Um collant preto cobria todo o meu tronco, exceto pelos meus braços que estavam nus. Por cima de tudo aquilo, ainda, uma jaqueta jeans desfiada nos ombros e sem mangas traziam um certo ar “caipira”, ainda mais com o meu clássico chapéu country. Em minha mão dominante, segurava a minha lança solar, repousando-a no meu outro antebraço, na altura de meu queixo; já estava pronta para o ataque assim que me dessem o sinal para tal, faltando só o meu oponente aparecer.

”E de seu lado esquerdo, o oponente de Elena Hayden!” O narrador gritou, e assim que abriram a porteira do lado oposto ao meu, só consegui avistar um vulto que subiu aos céus, o Sol ofuscando o seu corpo magrelo e emplumado. Consegui, graças a projeção de sua sombra no solo, notar suas asas e suas pernas que afunilavam em formato de garras; definitivamente, aquela criatura era uma harpia. Ardilosas e imprevisíveis, eu sabia que precisava tomar cuidado para não acabar virando petisco.

Ainda observando pela sombra que o Sol projetava no chão, notei que ela cada vez mais ficava menor, indicando que estava se distanciando e distanciando, suas asas abertas e esplendorosas balançando conforme o vento. Ela estava pegando altura para acabar a luta com um ataque só, eu bem sabia, e foi exatamente isso que ela tentou fazer; a sua sombra fechou as asas em volta do corpo magricela, se tornando mais marcante e maior a cada segundo. Ela estava caindo em espiral até mim, prestes na intenção de me perfurar com suas garras. Eu tinha uma esquiva em mente, mas precisaria saber o tempo correto para obter êxito.

— Agora! — Comandei para mim mesma, projetando o meu corpo para a frente quando a garra da criatura se destacou em sua sombra. Com um rolamento, consegui desviar do ataque da criatura, não sem antes garantir uma estocada com a minha lança na altura de sua asa direita, mas a mulher ave era muito mais rápida do que eu esperava; ela conseguiu tirar o membro a tempo, perdendo apenas algumas penas na investida. Ela voltou a subir aos céus, o que me deu tempo de ajeitar o meu chapéu na cabeça e novamente me posicionar preparada para o próximo ataque.

— Eu preciso tirá-la dos céus. Se ela parar de voar, tudo vai ficar muito mais fácil. Você é capaz, Elena. — Confiante em mim mesma, esperei mais uma vez pela investida da criatura para finalmente poder me lançar em sua direção no mesmo instante que ela tentou me atacar, a ponta de minha lança mortalmente apontada em sua direção para empalar a harpia.

— Não tão rápido! — Mais uma vez a criatura conseguiu desviar-se, desvencilhando o corpo para a direita; não sem antes rasgar o meu antebraço com suas garras inferiores. Urrei com a dor, sentindo a ferida arder e o líquido rubro escorrer com viscosidade até o chão. Por conta disso, não tive reação quando ela bateu suas asas, gerando uma ventania que me lançou para longe. Somente quando cravei minha lança no chão que consegui me sustentar sem cair.

E então ela veio mais uma vez, as garras dispostas a me agarrar. Ela já havia investido outras duas vezes contra mim, mas a terceira seria a sua última; ela possuia o mesmo Modus Operandi, sempre tentando me atacar com rasantes e investidas rápidas. Isso significa que eu só precisava ser tão rápida quanto ela.

Ouvi o seu chilreio, as garras cada vez mais próximas de mim, mas não me movi; apenas puxei a minha lança do chão, posicionando-a acima de meu antebraço ensanguentado. Somente quando a criatura tentou fechar as suas garras em mim, eu me lancei no chão, ficando fora de seu alcance.

Mas ela não estava longe do meu.

”Minha nossa!” Gritou o narrador, assim como os espectadores na arena entraram em um frisson. A minha lança havia perfurado a criatura de baixo para cima, a ponta dourada refletindo o Sol no crânio da ave. Ela não ficou mais do que cinco segundos daquela forma, explodindo em pó e sumindo pelos ares. Havia vencido o meu primeiro oponente…

Quais seriam os próximos dois?

Tarefa:

arma utilizada: